Conheci a Bia Willcox por uma colega de faculdade que teve um conto publicado pela sua editora. Logo me informei sobre o caráter inovador e ousado da Faces. Percorrendo o mundo editorial Bia propõe transparência e coragem para desafiar e começar um novo tipo de gestão, segundo a própria: 'A engrenagem é muito cheia de vícios'.
Daí ela me apresentou o Pandemonium que li em apenas duas noites antes de dormir... apesar do título não tive pesadelos! Como uma super observadora e apaixonada por livros fui vendo logo toda a arte! A capa é bonita que só ela só, que livro! A escolha da foto, a qualidade das folhas, a fonte que enumera cada capítulo, cheguei até mesmo numa novidade: era a 1ª edição e o exemplar estava numerado! Achei bonitinho o carimbado... intrigada pensei no propósito daquilo. Retomando, aquilo ali protege e dá liberdade para que também o autor saiba para onde vai os seus livros. Maneiro, né?
Quando voltei a falar com Bia ela surpreendeu-se com uma pessoa jovem vir a gostar do livro e eu me surpreendi com a surpresa! (Arff, que que é isso?) Confesso que o personagem principal me encantou, parece até um velho conhecido, diria um 'todo-errado', mas também de 'todo-certo' em suas críticas. Logo Bia vendo que eu gostei do livro propôs uma resenha literária.
Aqui na postagem vai na íntegra....
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Fonseca, Zeca. Pandemonium. Editora Faces, 2010. Niterói – RJ, 1ª Ed, 336 pp, 21 cm.
Quando vi o falo e a letra psi na capa do livro, simplesmente pensei: Nossa, que pu-ta-ri-a! Vou ler agora!
O falo é um símbolo falho de pênis ereto, enquanto o psi é a letra grega que simboliza a Psicologia. Desde a capa me chamou a atenção o fato do título carregar estes símbolos, também a foto de um sujeito aprisionado a uma máscara de ferro e os olhos de expressiva angústia me passaram certo incomodo desafiador em decifrar aquele alegórico Pandemonium.
O nosso anti-herói vive as mais diversas peripécias sexuais e caros leitores ponham a imaginação para funcionar! Não fossem as ressacas morais, o que só por isso o distanciam do Marquês de Sade, podemos ir além da imaginação! Lemok vive um grande amor platônico e no decorrer da narrativa entre crises existenciais há uma profunda subjetivação masculina. Nosso protagonista quer ser herói da estória, mas se depara com frustrações de uma seca realidade. Pandemonium se passa no Rio de Janeiro, década de 80. Uma elite decadente vive seus últimos dias de glória, equilibrando-se no que ainda podem parecer, no entanto já não o são mais. Há um universo de extravagâncias permitidas a uma luxuosa escoria, muito bem perfumada, a qual Lemok participa sem ali pertencer.
José Lemok é recém formado e começa a trabalhar em um jornal, onde sua primeira matéria é sua primeira desilusão. Descobre a negligência, a antiética e que o obrigar a dizer é mais sofisticado que o cala-boca-militar. Sua paixão não correspondida por Bel, uma colega de trabalho, desencadeia uma alegoria de demônios onde ele quase se afoga em seu ‘vômito ralo’. Entrega-se as drogas e seu comportamento sofre uma mudança drástica, ainda que um grosseirão a primeira pessoa na narrativa precisamente ágil e sagazmente irônica é encantadora. O absurdo ali tratado, ora grotesco discrepante, ora belo envolvente; embalado em ‘sexo, drogas e rock in Rio’ que Lemok põe para tocar, só faz parte deste show!
Não tem como esquivar-se. Linha por linha queremos acompanhar o carismático Lemok, cheio de defeitos, talvez até por isso seu primeiro nome seja José, um Zé, nosso companheiro de farras, abriu o caderno de confissões. O final tem gosto de quero-mais, mas fiquem tranquilos, Lemok continuará a partilhar sua estória entre nós em ‘O Adorador’, tão sagaz e mais voraz do que nunca!
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Ah! O Lemok é descendente de polonês, lembrou até um menino que eu sai... mó gatinho!rs rs rs! Só que ele não é grosseirão...
_ Zeca não venha descreve-lo fisicamente além do 'falo', por favor!?
Bateu até uma saudade...